Mais um Discurso exelente para vocês lerem e se prepararem para sair em missão.
ÉLDER BOYD K. PACKER
DO QUÓRUM DOS DOZE APÓSTOLOS
Extraído de Ensign, janeiro de 1983, pp. 51–56 Extraído de um discurso proferido em
um seminário para novos presidentes de missão em 25 de junho de 1982
Depois de muito pensar, decidi fazer meu discurso como se
seus missionários, seus élderes e sísteres estivessem aqui em seu lugar, e
apresentar conceitos mais adequados para eles, os iniciantes, os inexperientes,
do que para vocês. Espero que por intermédio de vocês, eu possa
compartilhar com eles algumas das coisas que aprendi a respeito do Espírito e de
como podemos preparar- nos para recebê-lo. Não aprendemos as coisas espirituais
exatamente da mesma forma que aprendemos as outras coisas que sabemos, embora
possamos fazê-lo lendo, ouvindo e ponderando. Aprendi que é preciso uma atitude
especial, tanto no ensino quanto no aprendizado das coisas espirituais. Há
coisas que vocês sabem, ou podem vir a saber, que lhes será muito difícil
explicar para as outras pessoas. Tenho certeza de que é assim mesmo que as
coisas deviam ser. (...)
NÃO APENAS COM PALAVRAS
Não podemos expressar o conhecimento espiritual apenas com
palavras. Podemos, contudo, mostrar com palavras como uma pessoa pode se
preparar para receber o Espírito. O próprio Espírito irá ajudar nesse processo.
“Porque quando um homem fala pelo poder do Espírito Santo, o poder do Espírito
Santo leva as suas palavras ao coração dos filhos dos homens” (2 Néfi 33:1).
Temos, então, uma comunicação espiritual, e podemos dizer em nosso íntimo: Era
isso que eu estava procurando! É isso que significam aquelas palavras da
revelação. Depois disso, se forem cuidadosamente escolhidas, as palavras serão
adequadas para ensinar coisas espirituais. Não temos palavras (nem mesmo nas
escrituras) que descrevam perfeitamente o Espírito. As escrituras geralmente
usam a palavra voz, que não descreve exatamente o Espírito. Aquela comunicação
delicada e refinada não é vista com os nossos olhos, não é ouvida com nossos
ouvidos. Embora seja descrita como uma voz, é uma voz que mais sentimos do que
ouvimos. Depois que compreendi isso, um versículo do Livro de Mórmon adquiriu
um profundo significado para mim, e meu testemunho do livro cresceu
imensamente. Tem a ver com Lamã e Lemuel, que se rebelaram contra Néfi. Néfi os
repreendeu, dizendo: “Haveis visto um anjo que vos falou; sim, haveis ouvido
sua voz de tempos em tempos; e ele vos falou numa voz mansa e delicada, mas
havíeis perdido a sensibilidade, de modo que não pudestes perceber suas palavras” (1 Néfi 17:45; grifo do
autor). (...)
A
VOZ
MANSA E DELICADA A voz do Espírito é descrita como uma
voz nem “áspera” nem “forte”. Não é “uma voz de trovão nem uma voz de ruído
tumultuoso”, mas, sim, uma “voz mansa, de perfeita suavidade, semelhante a um
sussurro”, que “penetra até o âmago da alma” e faz “[arder] o coração” (3 Néfi
11:3; Helamã 5:30; D&C 85:6–7). Lembrem-se de que Elias descobriu que a voz
do Senhor não estava no vento nem no terremoto nem no fogo, mas era uma “voz
mansa e delicada” (I Reis 19:12). O Espírito não chama nossa atenção gritando
ou sacudindo- nos com brutalidade. Ele sussurra. Ele nos afaga tão gentilmente
que se estivermos preocupados com alguma coisa pode ser que não sintamos nada.
(Não admira que a Palavra de Sabedoria nos tenha sido revelada, pois como pode
o bêbado ou o viciado sentir essa voz?) De vez em quando, ela nos chamará com
suficiente firmeza para que pres
temos atenção. Mas na maioria das
vezes, se não prestarmos atenção ao delicado sentimento, o Espírito vai
retirar-Se e esperar que O busquemos e O ouçamos e digamos, à nossa própria
maneira, o mesmo que Samuel disse no passado: “Fala, Senhor, porque o teu servo
ouve” (I Samuel 3:10).
FORTES EXPERIÊNCIAS ESPIRITUAIS NÃO ACONTECEM COM FREQÜÊNCIA
Aprendi que não temos muito freqüentemente experiências
espirituais fortes e marcantes. E quando as temos, geralmente são para nossa
própria edificação, instrução ou correção. A menos que tenhamos sido chamados
pela devida autoridade para fazê-lo, elas não nos colocam em condição de
aconselhar ou corrigir as pessoas.
NÃO COMENTAR LEVIANAMENTE AS EXPERIÊNCIAS
Concluí também que não é sábio falar continuamente a
respeito de experiências espirituais incomuns. Elas devem ser guardadas com
carinho e só devem ser compartilhadas quando o próprio Espírito inspirá-los a
usarem-nas para abençoar outras pessoas. Lembro-me sempre das palavras de Alma:
“É dado a muitos conhecer os mistérios de Deus; é-lhes, porém, absolutamente
proibido divulgá-los, a não ser a parte de sua palavra que ele concede aos
filhos dos homens de acordo com a atenção e diligência que lhe dedicam” (Alma
12:9). Ouvi, certa vez, o Presidente Marion G. Romney aconselhar os presidentes
de missão e respectivas esposas em Genebra, dizendo: “Não conto tudo o que sei;
nunca contei a minha esposa tudo o que sei, porque descobri que se eu não agir
com muita seriedade ao falar de coisas sagradas, o Senhor passará a não confiar
mais em mim”. Creio que devemos guardar essas coisas e ponderá-las em nosso
coração, como Lucas disse que Maria fez a respeito das coisas sublimes que
acompanharam o nascimento de Jesus (ver Lucas 2:19).
NÃO PODEMOS FORÇAR AS COISAS ESPIRITUAIS
Há algo mais a ser aprendido. Não se pode forçar o
surgimento de um testemunho; ele precisa crescer. Aumentamos o nosso testemunho
da mesma forma que crescemos em estatura física; mal percebemos isso acontecer,
porque o crescimento é muito gradual. Não é sensato questionar as revelações
com tanta insistência a ponto de exigirmos respostas imediatas ou as bênçãos
desejadas. Não podemos forçar as coisas espirituais. Palavras como compelir, coagir, forçar, pressionar,
exigir não
descrevem nossos privilégios com o Espírito. Não podemos forçar o Espírito a
responder, da mesma forma que
não podemos forçar um feijão a brotar
ou um ovo a chocar antes do tempo. Podemos criar um ambiente que promova
crescimento, edificação e proteção; mas não podemos forçar ou compelir: É
preciso esperar o crescimento. Não sejam impacientes para adquirirem um grande
conhecimento espiritual. Deixem-no crescer, ajudem-no a crescer, mas não o
forcem, caso contrário estarão propensos a se desviarem do rumo certo.
USEM TODOS OS SEUS RECURSOS
Espera-se que usemos a luz e o conhecimento que já possuímos
para lidar com os problemas de nossa vida. Não precisamos que uma revelação nos
instrua a sairmos para cumprir nosso dever, porque isso já nos foi dito nas
escrituras. Tampouco devemos esperar que a revelação substitua a inteligência
espiritual ou física que já recebemos. Ela simplesmente irá ampliá-la.
Precisamos seguir adiante com nossa vida normalmente, trabalhando todos os
dias, seguindo as rotinas, regras e normas que governam a vida. As regras,
normas e mandamentos são uma proteção valiosa. Se precisarmos de uma instrução
revelada para alterar nosso curso, ela estará nos esperando ao longo do
caminho, assim que chegarmos ao ponto em que necessitaremos dela. O conselho de
“ocupar-nos zelosamente” é realmente muito sábio (ver D&C 58:27).
MAIS PODEROSO DO QUE IMAGINAMOS
Não se sintam acanhados nem envergonhados se não souberem
tudo. Néfi disse: “Sei que ele ama seus filhos; não conheço, no entanto, o
significado de todas as coisas” (1 Néfi 11:17). Há mais poder em seu testemunho
do que vocês imaginam. (...)
POR ONDE COMEÇAR
Não é incomum ouvirmos um missionário dizer: “Como posso
prestar um testemunho antes de adquiri-lo? Como posso testificar que Deus vive,
que Jesus é o Cristo e que o evangelho é verdadeiro? Se eu não tenho esse
testemunho, não seria desonesto?” Oh! Se ao menos eu pudesse ensinar-lhes este
único princípio. O testemunho é descoberto quando nós o prestamos! Em algum lugar de sua jornada em busca de conhecimento
espiritual, existe aquele “salto de fé”, como os filósofos o chamam. É o
momento em que chegamos até o limiar da luz e damos um passo para dentro da
escuridão, para então descobrirmos que o caminho está iluminado por apenas um
ou dois passos à nossa frente. “O espírito do homem”, como diz a escritura, é
realmente “a lâmpada do Senhor” (Provérbios 20:27). Uma coisa é receber um
testemunho daquilo que lemos ou do que outra pessoa disse; e temos
obrigatoriamente que começar por aí. Mas uma coisa totalmente diferente é
sentir o Espírito confirmar em nosso peito que aquilo que nós testemunhamos é verdadeiro. Percebem
que isso lhes será concedido quando vocês o compartilharem? Ao oferecerem o que
vocês têm, isso lhes será devolvido e aumentado! (...)
ELE IRÁ APOIÁ-LOS
Se falarem com humildade e sincera intenção, o Senhor não os
deixará desamparados. As escrituras prometem isso. Ponderem esta promessa:
“Portanto, em verdade vos digo: Clamai a este povo; expressai os pensamentos
que eu vos puser [observem que isso ainda está por acontecer] no coração e não
sereis confundidos diante dos homens; Pois naquela mesma hora, sim, naquele
mesmo momento, ser-vos-á dado o que dizer. [Observem novamente que isso é algo
que acontecerá no futuro.] Mas um mandamento vos dou, de que tudo o que
declarardes declarareis em meu nome, com solenidade de coração, com espírito de
mansidão em todas as coisas. E prometo-vos que, se fizerdes isso, derramar-se-á
o Espírito Santo testificando todas as coisas que disserdes” (D&C 100:5–8).
(...) O ESPÍRITO NÃO LUTARÁ PARA SEMPRE CONOSCO
Depois que isso acontecer, sejam obedientes aos sussurros que
receberem. Aprendi uma lição muito importante quando fui presidente de missão.
Eu era também Autoridade Geral. Fui inspirado várias vezes, para o bem do
trabalho, a desobrigar um de meus conselheiros. Além de orar a esse respeito,
eu tinha chegado à conclusão de que aquela era a coisa certa. Mas não fiz isso.
Temi magoar um homem que tinha servido na Igreja por muito tempo. O Espírito Se
afastou de mim. Não recebi nenhuma inspiração sobre quem deveria ser chamado
como conselheiro, caso eu o desobrigasse. Isso durou várias semanas. Minhas
orações não passavam do teto da sala onde as fiz. Tentei diversas outras
maneiras de colocar o trabalho em ordem, mas de nada adiantou. Por fim, fiz o
que o Espírito me orientara a fazer. Imediatamente, o dom retornou! Oh, como
foi sublime a alegria de ter aquele dom novamente. Vocês o conhecem, porque
vocês o possuem: o dom do Espírito Santo. E o irmão não ficou magoado. Na
verdade, ele foi muito abençoado, e imediatamente, o trabalho começou a
prosperar.
PODEMOS SER ENGANADOS
Estejam sempre atentos para não serem enganados por uma
inspiração proveniente de uma fonte falsa. Vocês podem receber falsas mensagens
espirituais. Há espíritos falsos, assim como há anjos falsos (ver Morôni 7:17).
Tomem cuidado para não serem enganados, porque o diabo pode aparecer disfarçado
de anjo de luz. Nossa parte espiritual e nossa parte emocional estão tão
intimamente ligadas que
é possível confundir um impulso emocional com
algo espiritual. Ocasionalmente encontramos pessoas que receberam o que elas
supõem ser um sussurro espiritual de Deus, quando na verdade aquela inspiração
está centralizada nas emoções ou veio do adversário. Evitem como se fosse uma
praga aqueles que alegam terem sido abençoados com uma grande experiência
espiritual que os autoriza a desafiar a autoridade constituída do sacerdócio da
Igreja. Não fiquem perturbados se não conseguirem contradizer todas as insinuações
do apóstata ou todo desafio dos inimigos que atacam a Igreja. Enfrentamos uma
enxurrada dessas coisas. No devido tempo, vocês serão capazes de confundir os
iníquos e inspirar os sinceros de coração. (...) (...) A pérola de grande valor
é aprender bem cedo na vida a ser guiado pelo Espírito do Senhor — um dom
sublime. De fato, trata-se de um guia e uma proteção. “O Espírito ser-vos-á
dado pela oração da fé; e se não receberdes o Espírito, não ensinareis”
(D&C 42:14).
VOCÊS PODEM FAZER O TRABALHO DO SENHOR
Há grande poder neste trabalho, um poder espiritual. Um
membro comum da Igreja, como vocês, tendo recebido o dom do Espírito Santo pela
confirmação, pode realizar o trabalho do Senhor. Há vários anos, um amigo, que
já faleceu há muito tempo, contou-me esta experiência. Ele tinha dezessete anos
e, com seu companheiro de missão, parou em uma pequena casa nos estados do sul.
Era seu primeiro dia no campo missionário, e aquela era sua primeira porta. Uma
mulher grisalha apareceu do outro lado da tela de proteção e perguntou o que
eles queriam. Seu companheiro o cutucou para que ele prosseguisse. Muito
atemorizado e sentindo a língua travada, ele finalmente conseguiu dizer: “Como
o homem é Deus já foi, e como Deus é o homem pode vir a ser”. Por estranho que
pareça, ela ficou interessada e perguntou onde ele tinha ouvido isso. Ele
respondeu: “Está na Bíblia”. Ela saiu de junto da porta por um instante e
voltou com sua Bíblia. Dizendo ser ministra de uma congregação, ela entregou a
Bíblia para ele e disse: “Mostre-me onde está”. Ele pegou a Bíblia e a folheou
com nervosismo. Por fim, ele a devolveu, dizendo: “Não consigo encontrar. Nem
tenho certeza se está aí, e mesmo que esteja, não consegui encontrar. Sou
apenas um pobre rapaz da fazenda que saiu de Cache Valley, em Utah. Não tenho
muita instrução. Mas venho de uma família que vive o evangelho de Jesus Cristo.
E isso foi tão bom para minha família que aceitei o chamado de vir servir em
uma missão por dois anos, à minha própria custa, para dizer às pessoas como me
sinto a respeito do evangelho”. Depois de meio século, ele não conseguiu conter
as lágrimas ao contar-me que ela abriu a porta e disse: “Entre, meu rapaz, eu
gostaria de ouvir o que você tem para dizer”. Há um grande poder neste
trabalho, e o membro comum da Igreja, apoiado pelo Espírito, pode fazer o
trabalho do Senhor. Há muitas outras coisas a serem ditas. Eu poderia falar
sobre oração, jejum, a autoridade do sacerdócio, dignidade — todas essenciais à
revelação. Quando compreendidas, todas se encaixam perfeitamente. Mas algumas
coisas precisam ser aprendidas individualmente, sozinhos, ensinados pelo
Espírito. Néfi interrompeu seu grande sermão sobre o Espírito Santo e os anjos,
dizendo: “Não posso dizer mais; o Espírito encerra a minha fala” (2 Néfi 32:7).
Fiz o melhor que pude com as palavras que tenho. Talvez o Espírito lhes tenha
aberto o véu um pouco ou confirmado para vocês um princípio sagrado de
revelação, de comunicação espiritual. Sei por experiências por demais sagradas
para serem mencionadas que Deus vive, que Jesus é o Cristo, que o dom do
Espírito Santo que nos foi conferido em nossa confirmação é um dom sublime. O
Livro de Mórmon é verdadeiro! Esta é a Igreja do Senhor! Jesus é o Cristo! Há
um profeta de Deus que nos preside! O dia dos milagres não cessou, tampouco os
anjos deixaram de aparecer e ministrar aos homens! Os dons espirituais estão na
Igreja. O mais especial deles é o dom do Espírito Santo!